Queda de braço entre Governo Federal e companhias aéreas: Ministério exige plano de redução de tarifas
No mais recente capítulo da disputa entre o Governo Federal e as companhias aéreas em relação aos preços das passagens, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciou que as empresas deverão apresentar um plano de redução das tarifas. A primeira expectativa era que as empresas dessem respostas até o dia 24 de novembro, porém, o ministro afirmou que as companhias aéreas pediram mais prazo.
De acordo com o ministro, a aviação tem sido impactada pelo custo elevado do querosene e pela judicialização. Costa Filho destacou que o preço do combustível já apresenta queda de 14%, mesmo representando cerca de 30% a 35% dos custos das companhias aéreas. Sobre a judicialização, ele solicitou que as companhias apresentem propostas para combater ou diminuir essa prática no Brasil, que impacta negativamente em R$ 1 bilhão as empresas.
Por sua vez, as companhias aéreas argumentam que a demora recorrente na entrega de aeronaves têm sido um entrave para o crescimento. Tanto a Azul (AZUL4) quanto a Gol (GOLL4) consideram os atrasos responsáveis pela impossibilidade de expandir suas operações em termos de número de voos e ampliação da malha aérea.
Decisão unilateral do governo seria um enorme problema
Na visão de Rodrigo Faria, analista da SulAmérica Investimentos, a pressão do governo por uma queda nos preços das passagens poderia afetar as ações do setor apenas se houvesse uma decisão unilateral impondo "preços insustentáveis". Ele ressalta que o governo está aberto ao diálogo e pedindo sugestões de soluções viáveis para as companhias aéreas, que atualmente têm uma gestão racional. Dessa forma, as empresas irão sugerir soluções que atendam tanto à redução das tarifas quanto à sustentabilidade financeira de seus negócios.
Faria aponta que o custo do querosene de aviação (QAV) corresponde a aproximadamente 30% das receitas líquidas das companhias, apesar da eficiência apresentada pelo setor por meio do uso mais adequado das aeronaves e da atualização dos modelos em busca de eficiência.
Em relação ao outro ponto de pressão nos custos tratado pelo ministro de Minas e Energia, a judicialização, Faria também considera que não é um caminho fácil de discussão. Ele sugere a ideia de oferecer linhas de crédito subsidiadas para a troca de aeronaves por modelos mais eficientes e para reduzir o custo da dívida do setor. Segundo o analista, decisões paliativas ou temporárias que visem uma única linha de custo não seriam a solução adequada.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, acredita que se os problemas apontados pelo ministro forem resolvidos, será uma perspectiva positiva para o setor. No entanto, se as empresas tiverem que abrir mão de suas margens, o impacto seria ambíguo.
Endividamento e falta de aeronaves
As companhias aéreas enfrentam um cenário desafiador, com altos níveis de endividamento e dificuldades na entrega de aeronaves. O economista Vinicius Moura, sócio da Matriz Capital, destaca que o setor é diretamente impactado por eventos recorrentes, como pandemias, guerras e questões macroeconômicas. Ele afirma que as empresas já sofreram bastante com o aumento dos juros, o que resultou em uma dívida ainda maior, e tiveram problemas com o preço do combustível, que reduziu a lucratividade. Além disso, as companhias se endividaram significativamente desde o início da pandemia.
A falta de entregas de aeronaves também afeta os resultados das empresas, pois leva à depreciação da frota e exige ajustes na precificação dos ativos. Moura ressalta que a falta dessas entregas pode prejudicar os planos de expansão das companhias aéreas, já que a utilização de aeronaves mais antigas limita a capacidade de oferecer preços mais competitivos.
No entanto, Rodrigo Faria acredita que o problema é global e está relacionado ao gargalo na produção de componentes causado pela pandemia. Ele estima que a normalização do setor ocorra em 2024.
Apesar dos desafios enfrentados pelas companhias aéreas, o analista Phil Soares afirma que o impacto de uma possível decisão unilateral do governo em relação às tarifas seria marginal. Ele ressalta que o endividamento é o principal problema do setor, mas acredita que as empresas têm capacidade de se ajustar e encontrar soluções viáveis.
Em suma, a queda de braço entre o Governo Federal e as companhias aéreas em relação aos preços das passagens é um tema complexo, que envolve diversos fatores, como o custo do querosene de aviação, a judicialização e os atrasos na entrega de aeronaves. A pressão do governo por uma redução nas tarifas pode impactar o setor, mas é necessário buscar soluções que sejam sustentáveis financeiramente para as empresas. A discussão deve evitar decisões unilaterais que possam prejudicar a rentabilidade das companhias aéreas e comprometer a continuidade de suas operações.
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